"Ando devagar porque já tive pressa..."

"Ando devagar porque já tive pressa..."
"Ando devagar porque já tive pressa..."

23/03/2021

Sobre *Os Balões de 74

 Em 1974, aconteceu uma tragédia em Campina Grande. 

Sabe aqueles balões que são vendidos em festas populares, cheios de gás? Pois bem, em um parque de diversão, no bairro de José Pinheiro, nesta cidade, no dia de Natal do referido ano, um cilindro explodiu, vitimando muitas pessoas, entre elas algumas crianças. 

Esta semana, @yassirchediak, numa enquete no stories do Instagram, peguntou aos seus seguidores se uma música de Demis Roussos, a saber, Goodbye my love, goodbye -  os remete a algo.

Voltei à infância e ouvi a voz diferenciada do grande cantor grego. Voz melancólicamente bela! Relembrei de como eu fui melancólica até o início da juventude e como o relacionamento com Rostand me distanciou da melancolia. E como aquela voz contribuía pra meu estado de humor. Voltei à tarde de Natal de 1974, quando Graça, minha irmã mais velha nos levaria ao Parque. Não recordo o motivo de não termos ido, mas a notícia do acontecimento trágico, relembrei muito bem... E vieram à mente, os desejos da infância, os mimos das minhas irmãs mais velhas, as preocupações e cuidados  constantes de mamãe conosco, incluindo os vestidinhos lindos que costurava pra nos deixar tão lindas quanto eles,  a delícia que era andar no  carrossel... Mas, sobretudo, a tristeza do resto daquele dia e a marca que deixou nos meus tempos de menina... E da coleguinha de classe, nas Lourdinas, chamada Edna, uma das vítimas da tragédia e que esteve ausente das aulas presenciais por muitos mêses do ano letivo de 1975. Consigo visualizar a pele dela, quando retornou ao colégio, cheia de cicatrizes... Imagino quantas serão as que não conseguimos ver...

Busquei, a partir do questionamento de Yassir, o curta produzido por um grupo de cineastas e produtores culturais campinenses. Entre eles, @helton,  @lunaraujov e @moema, meus sobrinhos, com o título * Os Balões de 74.

Numa das primeiras cenas, a imagem do meu abajur, que emprestei pra compor o cenário -  minha mísera contribuição ao magnífico projeto. Me senti envaidecida (risos), e pensei no quanto cada um que compõe a equipe de produtores culturais deve se orgulhar de tão belo trabalho. Da importância que ele, como registro da memória coletiva, tem no âmbito cultural da nossa cidade e como peça da engrenagem do cinema, de forma geral.

Escrevo agora e não consigo me desvencilhar da voz de Demis Roussos... Ela que povoou meus dias de criança, que a ouvia nas rádios da cidade e a partir do som da difusora do vizinho bairro José Pinheiro, que chegava ao meu.

Tem coisas que nos acompanham a vida inteira de forma velada e que, vira e mexe, surgem de maneira mais contundente, a partir de algum gatilho.

Em 1974 eu tinha apenas 10 dos meus hoje, 56 anos. E uma enquete despretensiosa me fez voltar no tempo e repensar sobre como a vida se compõe de eventos de toda sorte. Hoje, relembro o fatídico Natal de um ano distante, mas que faz parte do que sou e me faz refletir sobre muita coisa... Se tornando, assim, tão próximo...

Viva o áudiovisual paraibano!   Essa mola propulsora de encantamento e de reflexão, tão desprestigiada pelos poderes públicos! Salve a arte, os artistas e toda a estrutura que torna possível esse trabalho que hoje é produzido  dentro das possibilidades de se "tirar leite de pedras", quando poderia ser reconhecido como fundamental e fomentado pelas instâncias competentes.

23/03/21


Arquivo do blog