"Ando devagar porque já tive pressa..."

"Ando devagar porque já tive pressa..."
"Ando devagar porque já tive pressa..."

27/07/2020

Gostinho de céu




Eu tenho certa resistência às mudanças... Mesmo assim, estou aberta a elas e aproveito as oportunidades que a vida oferece.
Hoje experimentei um dia dos avós diferente dos oito que vivenciei desde que Alice me tornou avó - uma comemoração remota.
Eles me ligaram por chamada de vídeo, pela manhã. E no início da noite, demos continuidade às conversas e brincadeiras que havíamos começado.
Adoro conversar com eles assim e vê-los brincando e se esforçando (como se fosse necessário) para nos agradar. Hoje combinei de fazer uma geleia de morango, há alguns dias prometida, em tempo real. Eles viram todas as etapas e Alice até anotou o passo a passo. A geleia está pronta, fria e acomodada em um vidro. Amanhã o vovô Rostand irá fazer a entrega.
O sabor vai além dos morangos... Transcendeu pra gostinho de céu, disfarçado em casa de vó... Com a certeza de que minhas "formiguinhas" vão adorar, caprichei na doçura.
Se prestarmos atenção, há muitas coisas na vida que não tem preço, mas cujo valor é imensurável. Mimar meus queridinhos se enquadra numa destas coisas e me faz um bem enorme.
Vivi hoje um dia dos avós diferente,  mas muito bom. Claro que sinto falta dos abraços, beijinhos e cheirinhos deles. Mas conto com o amor que vejo em seus olhinhos e na sua alegria de estar conosco.
Agradeço pelo dia de hoje e, principalmente, pela condição de avó. E desejo a todos os avós do mundo, que logo estejam juntos aos seus netos e possam desfrutar de suas amorosas companhias. Que tudo isso logo passe e continuemos a ser felizes com o que tivermos para o momento. O que temos pra hoje é a certeza de sermos avós e isso nos basta.
O meu dia dos avós foi muito feliz. Espero que o de todos também.

Lola, em 26/07/20 - Dia de Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus)

24/07/2020

Pássaros e sóis

Pelos pássaros e sóis, adoro Venturini!
Mas não apenas isso nele me apraz.
Vejo nascentes, rios, flores, também gente,
Na sua música suave e envolvente.
Poesia pura e muito profunda,
Surge da voz que toca minha alma
E ela, embevecida e agradecida,
Segue seu rumo, inebriada.

Lola, em 23/07/20 (pelo aniversário de Flávio Venturini)

17/07/2020

Nada além de uma ilusão

Uma taça de vinho,
Queijo, azeite, pasta de tomate, manjericão, rúcula,
Paula Toler na TV.
Sei que muito mais se pode esperar de uma sexta à noite
Mas torno a minha perfeita assim.
Pensamento caminha e chega noutros tempos.
O presente não assusta mais que o devir.
Prossigo ouvindo música, vendo séries e filmes
Mas principalmente, escrevendo sobre o desejo de viver além do palpável.
E chega a ser, tudo o que escrevo.
Torno concreto minhas abstrações.e me alegro, apesar de tudo...
E até de nada...
Nada além de uma ilusão, já diz a bela canção...


Lola, em 17/07/20. ( Curtindo a live de Paula Toler, acompanhada de vinho e devaneios)

De sol e de lua


Carne de sol ou de lua? Questiona Alice.
Se a comemos no almoço, de sol, responde ela.
Se é no jantar que ela aparece, de lua, ora essa!
"É minha carne preferida."
Ah, não me diga!
De sol, de lua, eita menina!
Nada se compara a fazer as refeições em companhia querida.
A minha, certamente, é Alice, minha netinha linda.

Lola, em janeiro de 2016, na praia. Com a inspiração de Alice.

14/07/2020

Mamãe


Mais doçura, mais paciência, mais empatia, mais jeito para lidar com a vida...
Uma pitada da sua doçura me deixaria quase um favo de mel...
De sua paciência, me tornaria zen...
Da sua empatia, uma pessoa muito justa...
Do seu jeito de lidar com as coisas da vida, alguém muito sábia...
De tudo que não sobrava em você, pois que existia na medida certa, eu queria só um pouquinho. Faria um bem enorme, e não apenas a mim, mas tornaria a vida mais interessante a todos que cruzam meus caminhos.
Perfeição só existe de forma idealizada, mas há pessoas que conseguem, a partir do seu jeito de ser, emanar a luz necessária para iluminar muitas outras. Estas deixam marcas indeléveis, e sobre elas, falaremos pro resto de nossas vidas. Vidas marcadas por estes seres especiais, que nos são enviados para que aprendamos a ser melhores. Melhores até do que as vezes nos propomos.
Pessoas especiais deixam marcas e saudades especiais. E a minha saudade me faz sorrir e chorar, mas sobretudo, me sentir em estado de graça. E este estado perdura ao ponto de me fazer, vez por outra, tentar declará-la de alguma forma. Hoje, escrevo para tentar amenizá-la, ao mesmo tempo que reverencio a sua memória.
Mamãe, você vai muito além da saudade que sinto, do reconhecimento que tenho, das palavras que escrevo. Você vive em mim em tudo o que eu sou e em minhas tentativas de ser uma pessoa melhor. Por isso, hoje, com o coração cheio de amor, inicio este dia 13 de junho recordando o de nove anos atrás. Mas não sofro, embora sinta saudades e até chore. Por que você cumpriu em mim, sua obra, e se faz presença constante. E é por isso também que continua crescendo o amor que sinto, na proporção da minha admiração, respeito e reverência a você, minha mãe querida, amável e linda. Tudo o que eu sempre quis, tive e terei eternamente.


Lola, em 13/06/20, (constatando que saudade não mata)

Do amor que a quarentena não me tira


Do amor que a quarentena não me tira, aproveito como posso. Não que me seja fácil ou tranquilo, e as vezes consegue ser. Mas porque é a única maneira que tenho para desfrutá-lo. Claro que há dias de - não posso dizer revolta, pois não é, mas de introspecção - além de um tanto quanto melancólicos. Porém, na maioria deles, consigo vivenciar o amor dos meus netinhos.
Semana passada, um evento me deixou muito feliz, embora, como tem sido nesse tempo de pandemia e de distanciamento social, um pouquinho de tristeza me rondou. Falo sobre o que Priscylla, minha filha caçula me contou: Heitor, em fase de brincar de mágico, a transformou em mim. Disse as palavras mágicas e puf... – “Você agora é vó Loló “. Entrando na brincadeira, ela, prontamente passou a me imitar, no jeito e no tom da fala, o que o deixou muito admirado, a chamar Alice e dizer muito satisfeito: “Olha Alice, é vó Loló! Fala com vó Loló...”
Certas coisas, por mais que tentemos comentar, dividir com alguém, nos deixa uma vontade imensa de eternizar. É com essa intenção que escrevo a respeito.
Hoje, numa vídeo chamada de vídeo, estivemos juntos novamente. Isso tem acontecido quase diariamente. Percebi em Heitor, a necessidade de falar comigo. Era tanto “vó Loló”... Tanto “olha isso, olha aquilo”, me mostrando as coisas que fazem parte da sua vida doméstica... Então comentei mais tarde, com Priscylla. Logo mais, ela me enviou áudios, que gravou ao perceber que ele, já no berço, pronto pra dormir, fazia de conta que falava comigo... E continuava a conversa iniciada na vídeo chamada... Pri gravou parte dessa conversa do outro lado da porta do quarto fechado.
E aí, meu coração, que fazer com essa informação? - Tentar ser racional e não me abalar emocionalmente, embora esteja morrendo de saudades de encontros presenciais? Fecho os olhos e sinto os cheirinhos deles, de Alice e Heitor... Sinto falta das recorrentes visitas, das noites passadas comigo, dos beijinhos e abraços... Sinto falta de tudo... Menos do amor...Pois o sinto presente na ausência e em nossos encontros remotos - ou devo aproveitar a experiência para justamente ratificar o sentimento que nos une, incondicionalmente?                                                       
Acho que a união das duas opções é a atitude viável. Tentar ser racional ao ponto de não sofrer por algo, uma situação que não posso mudar, pois foge do meu controle, e ao mesmo tempo, perceber que a tudo o amor consegue dar significado positivo.
Lola, em junho de 2020 - (Sentindo-se saudosa e grata, na mesma proporção.)

12/07/2020

Chocolate Quente

Deitei, no meio desta tarde de domingo, buscando um cochilo que não aconteceu.
Friozinho bom na serra da Borborema e isto apetece. Mas apetece também alguns sabores... E gulosa como sou, levantei pensando em chocolate. Ia fazer brigadeiro, ou chocolate quente, mas optei por pipoca.
Pipoquinha feita, sentei-me em frente à TV, acompanhando o êxtase de Talitta, assistindo a live do Ilê Ayê e me deparei com o chocolate. Não o desejado, mas o que me veio como bonus.
Chocolate - delicioso, desejado, belo e envolvente - o chocolate da cor da pele de cada músico, dançarina e cantor do grupo que vai além de qualquer formação de banda. Esta identidade baiana, que nasce, cresce e vive com o propósito primeiro de dizer sim à negritude brasileira. Mas, principalmente, de dizer não a tudo que a ela se contrapõe. Porque, infelizmente, tudo o que se contrapõe à negritude, não pode ser visto como apenas dissenso ou opção de diversidade. No país que praticamente nasceu a partir do trabalho negro escravizado, de pessoas que arrancadas de seus lugares de origem, passaram a ser, além de tudo, estigmatizadas, à sua cor foi relacionado muito o que há de negativo.
Me delicio degustando o chocolate quente, muito quente, posto que canta e grita - NÃO NOS MATEM.  Dança e evoca os orixás - NOS PROTEJAM. Atuam e mandam o recado - ESSE PAÍS É FEITO POR NÓS, NINGUÉM VAI MUDAR NEM CALAR NOSSA VOZ.
Hoje o meu dia segue abastecido de chocolate. E eu, que nem chocólatra sou, me sacio, bebendo na fonte da ancestralidade afro que tanto me fascina e inspira.
BA TUM TUM... E me emociono ao ponto de, além de chegar às lágrimas, recorrer à palavra escrita, essa que grita em mim todos os gritos possíveis e tem poder de reverberar.

Lola, em 12/07/20 (emocionada com a live do Ilê Ayê)

04/07/2020

Dos sons da vida


Do serrote que corta o pinho que compõe o instrumento
Também emana sons incríveis.
Vi isto nas ruas de Nova York,
Mostrado num programa cultural.
Artista de rua tocando um serrote,
Quem diria?
E o som que dele saia,
Não se confundia com os de outros instrumentos,
A não ser a voz   humana.
Ouvi uma cantora lírica através da rudeza de um serrote.
Meu encantamento foi além do som que ouvi.
Encontrou a alegria da artista, que, ao empunhar um serrote,
O fazia com o prazer que que qualquer músico sente ao segurar seu instrumento.
Entendi que não importa como nem o que nos faz tocar
E que tocar as sensibilidades é o primeiro e derradeiro motivo da existência da arte.
Bem como, refleti que o mesmo deve se dar em relação à vida,
Cuja pluralidade de sons multifacetados e repletos de nuances,
Pode nos proporcionar um concerto capaz de consertar o mundo.

Lola, em 04/07/20 ­– (Embevecida com as possibilidades sonoras)

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