"Ando devagar porque já tive pressa..."

"Ando devagar porque já tive pressa..."
"Ando devagar porque já tive pressa..."

05/02/2011

JOSELITOOOOOO LUCEEEEEEENAAAAAAAAAA



            “Hoje – Treze e Campinense...Campinense e Treze ! Perca tudo hoje a tarde, mas não perca a tarde esportiva de hoje!”
Ouvi muito essas palavras na minha infância pronunciadas por um locutor em um carro de som. Eu morava no Santo Antônio e as chamadas se referiam às tardes esportivas no Municipal.
No ano de 1981, conheci Rostand Lucena. Estudávamos juntos no CPUC e as brincadeiras dos colegas do colégio me permitiram saber que se tratava do filho de Joselito Lucena, um narrador e renome na cidade. Todos ao ver Rostand, cantavam o jingle Joselitoooooooooooo Lucenaaaaaaaaaaaa, que anunciava as participações do seu pai nas transmissões de futebol da Rádio Borborema
No final do ano de 1981 eu comecei a namorar Rostand e conheci, em plena noite de natal, o seu pai famoso. Ao primeiro olhar uma empatia aconteceu e em 30 anos de convivência, não vi no trato de Zelito a mim, nem um sinal de desaprovação, muito pelo contrário. E a nossa amizade foi-se avolumando e tomou um vulto que eu nem sei explicar; só sei aprendi a querer um bem enorme a ele e sempre senti reciprocidade.
Hoje a voz de Zelito se calou. Enfermo no leito de um hospital, não resistiu à doença que lhe maltratava há algum tempo. Aquele vozeirão que eu ouvia ao atender ao telefone,  que escutava nas inúmeras conversas que tivemos e, principalmente, a voz das tardes de domingo que eu já ouvia anunciadas desde menina, quando das jornadas de futebol. Apesar de que o carro de som não convidava propriamente para ouvir Zelito. Mas o que seria das tardes de domingo sem a narração quase unanimemente escutada e aprovada pela “galera” desportista da cidade?
Rostand se tornou repórter de pista do pai e não muito depois, narrador e o acompanhou desde então, aprendendo o ofício e se especializando mais e mais, chegando ao ponto de ser reverenciado por ele que, mais que pai coruja, tinha ciência da capacidade e do empenho do filho. Casei com Rostand e me tornei nora de Zelito. Brincávamos que eu era a nora preferida, pois por muito tempo fui única. Depois seu filho mais novo também lhe presenteou com uma nora e ao conhecê-la, continuei a nrincadeira dando-lhe um ar de disputa; a disputa pelo posto de nora preferida.
Se fui ou sou a nora preferida de Zelito, isso nem importa. O que tem muito valor para mim é o fato de ter convivido com ele esses anos e ter tido um nível de intimidade pouco usual nas relações nora/sogro.
Me importa sim, e muito, é que ele sim, foi meu sogro preferido, como também brincávamos. E que jamais deixará de ser, posto que não existe ex sogro – sogro e sogra são para sempre. E para sempre Zelito fará parte da minha vida, como sogro preferido que sempre foi.
“Meu querido, meu velho, meu amigo” – ouso me utilizar das palavras do rei, geralmente aproveitadas para reverenciar os pais, para lhe dizer do meu apreço, para lhe falar da minha comoção. Para que todos saibam o quanto você foi e sempre será reverenciado por mim, que guardarei eternamente a certeza da nossa empatia.
Descanse em paz, seguindo seu caminho de luz que agora é. E ilumine os céus como enfeitou, aqui na terra, as tardes dominicais de tanta gente, que ao lhe ver partir chora e se despede, na esperança de um reencontro, quem sabe um dia.
JOSELITOOOOOOOOOOOOOOOOOOO LUCEEEEEEEEEEEEENAAAAAAAAAAAAAAA! 
Este som ecoa dentro de mim, e cá, no peito, tudo tremula, como uma "bola na rede" e eu ouço um grito de gol inconfundível.

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