"Ando devagar porque já tive pressa..."

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"Ando devagar porque já tive pressa..."

22/12/2010

Sobre Elisete e Elisetes


Estava eu em Caruaru, dia 09 de dezembro, prestes a entrar em sala de aula para participar de uma banca para seleção de professor na FAVIP. Para afastar um pouco a ansiedade, depois de revisar o conteúdo e o material da aula, fui ver e-mail, lá mesmo, na biblioteca. Foi então que abri um e-mail de Elisete, convidando para o lançamento do seu primeiro livro, Matuta da Gema. Respondi prontamente e ela me deu retorno no mesmo instante. Estávamos on line ao mesmo tempo. Respondi novamente e mais uma vez ela retornou. Enfim, terminamos com uma afirmativa dela que rezaria em prol do que eu lhe pedira. Fiquei tão confiante! Em minha modéstia avaliação, Elisete é uma mulher de fé. E não é porque passou seis anos vivendo numa instituição religiosa, não. É pela forma que conduz sua vida. Elisete sabe viver. Já disse isso a ela e digo constantemente a minhas irmãs. Ela sabe tirar leite de pedra  e nem chora se ele se derrama...sabe que de onde saiu o primeiro, se não sair novamente, outras pedras no caminho podem vir a lhe providenciar o leite necessário.
Eu já tinha uma dmiração muito grande por essa Matuta da Gema, no dizer dela própria, mas confesso que desde o dia 20 de dezembro deste ano de 2010, a minha admiração aumentou consideravelmente.
Quando voltei pra casa, já tarde, na mesma noite de autógrafos, depois de um banho morno muito gostoso, me deitei e comecei a folhear o livro. Quase 3hs da manhã e eu ainda com a luz do quarto acesa, enquanto Rostand dormia. Só fechei o livro por receio de acordá-lo, pois a leitura me fez desaguar em lágrimas e chegou a fazer barulho. Resolvi pausar e deixar a leitura pra outra hora. O fato é que fui dormir com uma certeza – me identifico e muito com a tal matuta. E não é por ser matuta não, pois nunca saí de Campina Grande, onde nasci e moro até hoje, embora em muitos aspectos, a matutice também faça parte do meu leque de possibilidades.
Minha identificação relaciona-se ao seu jeito de ser mãe e do amor que vai além dos filhos, visto que tem a ver com o fato de gostar de ser mãe, amar a maternidade.
Certa vez, minha irmã Fáti, falando sobre suas idas a João Pessoa, onde se hospedava na casa de Elisete, disse que lá se sentia como em minha casa, pelo jeito dos seus meninos a tratarem. Falou sobre eles com muito amor, respeito e admiração aos seus jeitos de ser, que percebia muito próximos aos das minhas meninas. Aff! Aquele foi o maior elogio que eu, mãe coruja e convencida de ser uma boa mãe, poderia receber. Cada coisinha que lia a respeito do seu cotidiano familiar me fazia ratificar a afirmativa de Fáti.
Voltando às lágrimas que me tomaram conta e que ensaiam dar o ar de sua graça neste momento em que escrevo, elas não se deram por sentir tristeza ao ler Elisete. Ao contrário – quanto mais chorava, mais me sentia feliz em saber que existem pessoas como ela. E a minha esperança no futuro da humanidade tomou fôlego.
Tenho pensado em estudar, num possível doutorado, a condição humana enquanto recurso natural. Fala-se muito em recursos naturais e que o homem o vem devastando. Essa perspectiva enxerga o homem apenas como mal feitor, culpado pela degradação do ambiente que lhe dá vida, esquecendo de percebê-lo como parte desse ambiente e que, por isso mesmo, também vem se deteriorando.
Ao ler a história de vida de Elisete, reforcei meu desejo e entendi que toda e qualquer mudança só se dá a partir de engajamento, de trabalho comprometido. Reforcei a compreensão que “os homens de boa vontade” serão sempre os atores principais no palco da vida, no sentido de mudanças qualitativas que possam reverter a situação em que a humanidade se encontra.
Consegui enxergar, a partir da leitura, as transformações que essa mulher danada foi tecendo aos poucos, na vida dos que o cercaram até então. E principalmente, percebi o quanto ela não se deixou trabalhar sozinha e fez de cada pessoa com quem conviveu, um aliado em prol das mudanças que intencionou.
Arretada mesmo, essa Elisete! Pense numa mulher determinada. Pensou? É ela mesma - a matuta da gema e da clara. Matuta da casca. Da gemada. Da omelete. De tudo o que é possível a partir do ovo, célula mãe.
Eu nem ia tocar num certo assunto, mas agora não tem como; somos “quase parentes”, ai ai...É que Talitta, a minha filha mais velha, andou de conversas com seu filho mais novo, Rafael. E desde que houve o prenúncio de um possível namoro, me alegrei, por saber das qualidades que ele tem, incluindo a mãe, que certamente fez a diferença na sua formação, contribuindo para ele ser como é. Então, lendo suas histórias, fiquei a imaginar um neto em comum com Elisete. E podem me achar maluca, mas foi isso mesmo que pensei (morrendo de rir) O quanto seria especialmente amado, pelas avós mais que corujas e pelas grandes famílias de seus pais.
Bem... Descartada a possibilidade de namoro entre nossos filhos, desejo afirmar nosso parentesco, pois o percebo bastante legítimo, uma vez que, se identificar é por na pessoa ou objeto com quem se identifica, um pouco de nós mesmos e/ou trazer para nós um pouco dos mesmos.
De parabéns Elisete pela obra lançada e de parabéns a Paraíba, que a acalantou em vários berços, em tantas plagas, de parabéns por essa filha matuta, danada, arretada mesmo. Legítima paraibana da gema.

Lola (21/12/10)

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