"Ando devagar porque já tive pressa..."

"Ando devagar porque já tive pressa..."
"Ando devagar porque já tive pressa..."

26/08/2023

Saudade

 Aos 25 anos, M. Eunice se uniu a dois colegas de turma, um dos quais, nosso primo Gôdo, e partiu no Chevette dele, rumo a S. Paulo para fazer o sexto ano e concluir o curso de medicina. Voltou, colou grau, participou do baile e retornou a S. Paulo para fazer residência, no hospital da Beneficência Portuguesa, onde fez o sexto ano.

 Não me esqueço daqueles tempos... Sua ida pra São Paulo nos trouxe uma atmosfera de luto. Sempre fui muito profunda no sentir, e senti muito a ausência... E a saudade me corroeu por dentro... Eu tinha apenas 13 anos... Mas o sentimento era tamanho GG.

 Nestes dias em que sentimos sua passagem para um outro nível de existência, não tem como não lembrar da tristeza daqueles...

 Desde março deste ano, acompanhei passo a passo, mão na mão, todo o processo de consultas, exames, cirurgia, internações, cuidados domiciliares... Tempo pra temperar todo um sentimento e relacionamento entre nós ... Chegamos a apurá-los.

 Hoje, apesar de lembrar do clima de separação do final dos anos 70, reconheço que nos proporcionava a esperança da volta... Dos retornos para nos visitar... E como nos visitava! Chegava a vir até 04, vezes num ano, para amenizar a saudade, num tempo em que não existia as facilidades da internet.

 Escrevi tantas cartinhas pra ela...

 Neste momento, daria tudo pra por nos correios uma delas e aguardar ansiosamente a resposta.

 Na impossibilidade de escrever cartas, me pego escrevendo estas linhas... Fecho os olhos e abro os demais sentidos... Sin meto a comunicação fluindo... E daqui emano meus sentimentos de que esteja bem e refeita das dores deste mundo.

 Abraço, beijo, afago os cabelos brancos da minha irmã que agora mora em mim e atende pelo nome de saudade.

 Lola 

 

13 de junho

 Há 12 anos, num dia de Santo Antônio, santo de sua devoção, mamãe partiu desse mundo.

Com ela se foi a alegria de ter uma mãe por perto, de ter suas orações, seu abraço e cheirinho gostoso... Mas ficou tanto por aqui... A certeza que ela continua em espírito e amor, a vontade de celebrar sua existência, o orgulho de ter vindo de seu ventre, compartilhado tantos anos e de ter aprendido muito com ela. Inclusive a sorrir... Herdei o sorriso fácil de mamãe, o que faz de mim uma pessoa leve e doce... Assim eu me vejo...

Mas ficou também uma saudade inexplicável, que as vezes dilacera o peito, outras vezes faz o amor aumentar.

E assim vou tocando a vida, sabendo de onde vim, quem sou e que fui privilegiada com a mais doce das mães. Uma flor de formosura. E sua memória ratifica o amor de Deus por mim. Isso é muito! Por isso sou grata. 

Lola

Papo cabeça


Nossas cabeças se juntaram tantas vezes,

Como um toque de afeto, de carinho.

Mesmo que os momentos não fossem dos melhores,

Sempre dávamos um jeitinho.

Bastava que num gesto puro e simples

Inclinássemos o rosto um pouquinho,

E um leve sorriso esbssássemos, pra sentir a vida fluir mais de mansinho.

Infelizmente, como nem tudo são flores,

Chegam momentos de sofrimento e de partida.

E por mais que a resiliência nos habite,

Ficamos tristes,  pois a dor as vezes insiste.

E sem convite vem e ocupa espaço - aquele que seria de um abraço,

De cabecinhas que se tocam e demonstram

Que vale a pena se entregar ao amor, sentimento tão profundo,

Que justifica nossa presença nesse mundo.


Lola, em 06 e 07/23


Rede de apoio

 Há uma rede de apoio invisível que muitas vezes nem nos damos conta, mas existe.

Há uma mão firme, porém suave, que nos sustenta ao primeiro sinal de tropeço.

Há, sim, há, a ilusão de que nada existe a não ser auto suficiência. 

Há um amor que paira no ar à disposição, mesmo se nem percebemos sua necessidade.

Há caridade, empatia, assistência...

É preciso educar os sentidos à sensibilidade...

Muito do que buscamos em Deus existe no nosso entorno, mas por dificultarmos a percepção, tiramos o pé do chão e direcionamos olhares apenas ao céu, em busca de socorro, esquecendo que Deus nos fez à sua imagem e semelhança.

Precisamos sentir como criança, que pede colo, pede abrigo, abre os braços à acolhida. Não se intimida, por ter noção de que é dependente, carente.

Carentes somos todos nós - de cuidados, de afagos, de mimos.

E potentes, também somos. Temos o poder de mudar as situações. A nossa, a de todo mundo.

Deus nos fortaleça para que possamos fortalecer a quem necessita.

E que Ele nos oriente o caminho... E 

de nós sempre esteja juntinho...

Deus é mais! Deus é pai!

30/31/07/23



27/07/2023

Céu de papel de sêda

 Sábado à tarde... Minha saudade me leva à rua João Suassuna, caminho do hospital da FAP. Lá, bem pertinho do hospital, crianças e adultos brincam de liberdade... Sob o céu de final de semana, muitas pipas colorem a tarde, embelezam o dia e divertem a todos que participam daquilo que eu, ao ver pela primeira vez, cheguei a perder o fôlego.

No imaginário da criança que ainda habita em mim, as pipas, ou corujas, como dizíamos, são símbolo de beleza , leveza e liberdade que devem compor a infância.

Ao me dirigir à FAP, depois de ter ido em casa me refazer da noite passada acompanhando minha irmã, voltando para cumprir minha intenção de ser colo pra ela, apoio moral, material e, principalmente espiritual, encher os olhos com a cena belíssima de pipas colorindo o céu, crianças correndo com as suas nas mãos, outras já cansadinhas, sentadas ao meio fio ou na porta de casa, adultos levando, orgulhosamente as suas, certamente por eles confeccionadas... Uma verdadeira festa das corujas - eu me enchia  da alegria do que via e repassava a Maria Eunice, na tentativa de que o belo lhe revestisse de esperança.

Hoje é um sábado diferente pra mim. Faz uma semana que a sepultamos e a dor da saudade lateja em meu ser inteiro. Não posso, mesmo assim, sepultar a esperança de que esteja bem, plena, em paz. Me alimento dessa idéia para emanar boas vibrações até ela... E o faço  fechando os olhos e pensando em cada pipa que vi subir aos céus... Peço que se encham de boas vibrações, energias de cura, libertação, sobretudo amor... E vôem  alto,  o mais alto que puderem, até chegarem à minha Maria número 03... E lhe contarem do amor que se sabe, aqui na terra, que ela semeou... E num sussurro  amoroso lhe contem da saudade... Mas lhe digam também da esperança que renova nossas vidas, só de saber o quanto a dela, por aqui, foi frutífera... Digam do orgulho, do prazer em conviver com alguém como ela... Que deixa bem mais que saudade - a certeza de que a vida é bela e vale ser vivida dentro da lógica do amor... Pois "só o amor conhece o que é verdade. O amor é bom" e o temos por perto... Abramos o coração, os olhos a mente... Ele está, inclusive e principalmente,  dentro de nós.

Vamos colorir a vida com papel de seda, com nuvens de algodão, com corações vermelhos ... Vamos ser tudo de bom que desejamos que sejam para nós... 

Dizem que "ninguém sabe o dia de amanhã"... Na verdade, ninguém sabe o dia de hoje... Das 00:00 as 24:00, tudo pode mudar... E esse é um tempo bom pra que iniciemos a nossa própria mudança.

De papel de seda colorido, refaço minha tarde de sábado... E minh'alma voa... Deixo fluir, seguir o fluxo... Me entrego ao sabor das nuvens...Respiro fundo e agradeço...

 Lola, em 15/07/23


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