"Ando devagar porque já tive pressa..."

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02/08/2008

Sobre educação

Educação é um ato que se dá de forma relacional, posto que não existe sem pelo menos duas pessoas, uma que ensina e outra que aprende, podendo ser também, um processo dialético, a partir da qual, as duas pessoas ensinem e aprendam ao mesmo tempo.

Não há vida humana sem educação, o que a torna muito próxima da cultura.Na verdade, a educação é parte integrante da cultura, e porque não dizer, fundamental.Ela se dá desde o momento que alguém nasce e se estende vida a fora, até a sua morte.

Embora seja relacionada a um saber escolar, livresco, ou erudito, a educação também se dá aonde não chega o saber institucional, ou formal.

O índio tem educação, o camponês tem educação, assim como o intelectual e a pessoa comum, que, apesar de estudar, não se dedica tanto às coisas da educação. Ou, digamos assim, ao mundo das letras.

Algo muito interessante que já vi sobre educação vem justamente de onde, via de regra, não se espera: das palavras de um índio, chefe de uma tribo do Estado Americano da Geórgia, quando respondeu a um pedido do então governador para que liberasse seus jovens para que pudessem estudar em escolas do estado e a partir da educação recebida, se tornassem “Homens”.

Após ler e interpretar as palavras do governador, respondeu-lhe mostrando que os ensinamentos que os componentes de sua tribo poderiam receber nas escolas não iriam lhe servir para a vida na tribo, cuja educação se dá no sentido de torná-los aptos a viver como guerreiros, caçadores, homens da tribo realmente, o que distancia muito do saber que eles poderiam encontrar nas escolas de “homens brancos”.Ao mesmo tempo, fez um convite igual, para que o governo dos EUA mandasse jovens para se tornarem homens, tal qual a tribo encara o ser homem, que eles haveriam de torná-los assim.

Esta discussão encerra algo que é percebido por todos que fazem da educação o seu objeto de estudo: não há um único sentido para a educação, ela, como todo elemento cultural, tem significados diferentes de lugar para lugar, de tempo para tempo, de interesse, para interesse.

É nesse sentido que se torna tarefa difícil falar sobre educação, visto que não dá para fazê-lo sem se prolongar um pouco, na tentativa de mostrar que ela, como tudo que se refere ao social, ocupa lugares de acordo com a conveniência e expectativa das pessoas envolvidas.É por isso que se pode dizer que o conhecimento, que é intrínseco à educação sempre fez parte da história da humanidade e, portanto, sempre se fez e se fará presente, enquanto houver humanidade.

A partir do nascimento, qualquer pessoa passa a sofrer influências do modo de vida do ambiente social que a acolhe e a aprender determinadas coisas que são importantes para a sua vida.Isso varia, como já foi dito, em relação ao momento histórico, espaço geográfico e cultural, mas não há como fugir dessa realidade.

É dessa forma, então, que vão se transformando em pessoas tal qual a sociedade espera que sejam, no sentido de atender ao projeto que ela elabora para si.

Sendo assim, dependendo do espaço social que acolha a pessoa, ela também aprenderá que tudo que ela é ou será, faz parte de sua natureza humana, sem desconfiar que na verdade, é marca da sua natureza cultural.

Na Grécia antiga e depois, na cultura greco-romana, a educação passa a ser algo mais aprimorado, existindo a figura do escavo pedagogo, que tinha como função, encaminhar a criança à escola, que surge no cenário social, desvinculando o aprendizado do ambiente doméstico.Lá, a educação se dava de forma diferenciada, dependendo do lugar que a pessoa ocupava na sociedade.Inclusive a possibilidade de estudar era oferecida apenas aos cidadãos, que também se beneficiavam de outros direitos.Ou seja, havia uma parcela da população que era excluída do processo educacional instituído.Estes, porém, não conseguiam, como não há no mundo e na história quem tenha conseguido, escapar, da educação informal; aquela a que todos têm direito e que passou a ser conhecida como senso comum – um saber comum a maioria, independente do lugar que ocupe na hierarquia social.

É importante ao se falar sobre educação, esclarecer que ela é revestida de um sentido ambíguo e que por isso mesmo pode servir, digamos assim, a dois senhores, concomitantemente.

Explicando melhor: a educação tanto pode servir para manter o status quo de uma sociedade, como pode ser a base para uma possível renovação de valores que podem redundar em mudanças.Este segundo aspecto revela o teor revolucionário, relacionado à educação e nos faz partir para uma outra análise. A dos sistemas educacionais.

Da mesma forma que a educação do tipo senso comum leva as pessoas a se tornarem próximas às coisas relacionadas à sociedade, naturalizando jeitos de ser, práticas e situações e por isso mesmo, as legitimando, a educação formal, aquela que se encontra nas escolas, universidades, etc, tem por objetivo diferenciar o saber e distribuí-lo de acordo com o lugar que cada uma ocupa.

É desta forma, pois, que a educação vai mantendo e ao mesmo tempo transformando a sociedade, de acordo com os seus propósitos.Não é à toa que podemos ver, por exemplo, uma maioria privilegiada ocupando os bancos das melhores escolas e das universidades.

É importante mostrar que mesmo se tratando de sociedades que levam o fator educação mais a sério, não conseguem desatrelá-la de uma questão política que norteia a sua existência e a faz caminhar justamente de acordo com os desejos da sociedade, que no dizer de Durkheim, transcende ao desejo subjetivo e se impõe ao mesmo.

Quero dizer com isso que, mesmo as melhores escolas, não deixam de carecer de aprofundamentos em algum aspecto e ou de um desapego a outros que possam tornar o educando mais passivo.

A educação é, pois, uma faca de dois gumes e como tal, pode tanto estar a serviço da ordem social, também na forma que Durkheim a coloca, como ser mola propulsora para as mudanças, que podem se dar a partir da forma como as pessoas envolvidas no processo educativo a encarem e a re-elaborem, podendo fazer do ato de educar uma maneira de transcender aos ditames sociais e construir seus próprios jeitos de encarar a vida.Desta feita, a partir de um senso crítico, que possa diferenciar o melhor e o pior caminho para uma vida plena e livre das amarras que comumente a sociedade utiliza para manter aquilo que ela entende por ordem.

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